sexta-feira, 25 de julho de 2008

Comboio até Casa

Nesta viagem de comboio, aproveito para encostar a minha cabeça à janela e pensar em toda a nossa história! Faz tanto tempo que não te toco, acho que já não sei reconhecer a tua pele e absorver o teu sorriso, como costumava fazer...
Já não vejo em mim a menina apaixonada que saltava para o teu colo e bebia os teus beijos...
Esta viagem de regresso a casa não é bem o que imaginamos! Está a ser tão dificil ter que voltar a encontrar o momento em que paramos a nossa história, prometendo retomá-la quando chegasse este dia... mas porquê tanto medo? Foi o que tinhamos planeado, mas e agora?
Lembro de chorar no teu colo quando me sentia perdida... de adormecer no teu colo quando me sentia segura... de tocar o teu corpo com a ansiedade característica de menina apaixonada... Tu que eu sempre soube que eras o meu princípe! Sim, eu acreditava em princípes, mas apenas num... em ti!
O barulhos do carris interrompe o meu pensamento e lembra-me que estou a chegar a casa... começo a reconhecer a paisagem... a cidade cinzenta e agitada! Os carros que andam em marcha lenta na outra ponte, que passa por cima do rio... aquele rio em que costumavamos admirar a figura da lua!
Começa a abrandar cada vez mais este comboio... lentamente vai parando e ouve-se aquele apito! Aquele apito que avisa os saudosos de que os ausentes regressaram e que poderão matar as saudades! Olho para as restantes caras, não sou a única com medo...
Vejo um homem de fato escuro... que passou a viagem a olhar para fotos antigas e a imaginar um possível diálogo... sem um único sorriso e em momentos, poderia jurar que vi uma lágrima...
Saímos do comboio, os ausentes, e ali está a multidão de pessoas que nos esperam... Curioso, o homem de fato não tem ninguém à sua espera, apercebo-me de que ele é só agora um ausente. Um ausente que procura ser alvo de saudade... um ausente que deseja um regresso cheio de saudosos que o abracem e lhe digam que já chegou a casa e que tudo vai ficar bem!
Ausentes e saudosos vão-se abraçando e afastando da zona do desembarque...
Fica um espaço vazio... não está aqui ninguém. Pensei que estarias aqui, afinal enganei-me e o meu receio de voltar para o vazio era real! Não estás aqui... afinal não regressei a casa!
Baixo os braços para levantar as malas cheias de roupas e lembranças dos dias de ausência... quando ouço-te chamar por mim...
Atrasado como de costume... todo atrapalhado e ofegante... Apercebo-me aí que ainda sou aquela menina... sou aquela menina porque vou pular para o teu colo, beber o teu beijo e absorver o abraço...
Quando finalmente, nos encontramos... apenas sussuras bem baixinho: "bemvinda a casa forasteira... agora não voltas a ir embora! Afinal, esta é a tua casa e eu ainda sou o teu princípe"
Nunca um abraço teve este gosto e sentimento... finalmente estou em casa...

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