Adormeci do teu lado, como era habitual... Sempre tivemos esse jeitinho especial de adormecermos juntos, sem que o outro se sentisse apertado na nossa pequena cama. Aquela cama que os tempos de juventude e de pouco dinheiro permitiam-nos...
As almofadas que dividiamos criteriosamente, tu sempre dormiste com a almofada mais alta e eu sempre com a mais baixa e mole para que pudesse dobrá-la e agarrar-me a ela, durante a noite.
Para além de nós os dois, ainda restava espaço para o peluche que tornou-se a minha companhia quando comecei a viver sozinha... e também para o gato, que estava lá em casa quando chegaste e por isso mesmo a tua alergia aprendeu a viver com ele...
Lembro-me de acordar sempre com o teu atraso e de acordar com uma carícia e com um sussuro que me dizia que já podia ir tomar banho...
Todas estas coisas que eram nossas e que me faziam sentir mais em casa... Sabias disso? Que os teus braços nessa altura eram um pouco de casa? Eu sempre encontrei pedacinhos de casa nas mais pequeninas coisas... Tu já eras diferente.
Tu sempre me disseste que não conseguias sentir esse conforto de casa... que não conseguias acalmar e sentir esta minha serenidade... Mas mesmo assim, adormecias do meu lado. E sabes quando dormíamos separados? Sim havia mais espaço e podiamos espalhar o corpo à vontade, mas faltava-me ali o cheirinho de casa... de conforto... de felicidade, que não sei explicar muito bem...
Hoje já não é assim... quando um tem a sua cama... as palavras não são mais trocadas e os olhares são evitados... e a minha tristeza é daquelas caladas... não me apetece falar com ninguém e só me apetece chorar... Mas sabes que as lágrimas recusam-se a cair? E tu que andas por aí, sempre com um ar tão alienado... sem um sorriso feliz, daqueles que tinhas e usavas quando te encontrei pela primeira vez...
O ar de menino traquina e de coração grande desapareceu com os dias... e o ar de alienado foi crescendo... a distância surgiu e ficou. E nós já não partilhamos mais aquela cama pequena nem os pequenos gestos de manhã...
Sabes que ainda não consegui parar de escrever desde essa altura? Procuro o conjunto de linhas ideias para descrever o que nos aconteceu... mas por mais que escreva não consigo aproximar-me da realidade e do que realmente sinto...
E por isso continuo a escrever pela noite e dia fora... talvez consiga explicar ou simplesmente consiga perceber que nem tudo tem de ter explicação... se calhar nós somos inexplicáveis!
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