Num dia chuvoso como este, o seu corpo permanecia ali imóvel, a face demasiado pálida e a voz quase sumida.
Ela outrora um corpo cheio de vida, via os seus dias passaram naquele quarto demasiado branco e demasiado cheio de nada. Uma cama de ferro, uma pequenina mesa de cabeceira onde permanecia sempre uma caneca meio cheia de água e um jarro com uma magnólia, a sua flor preferida.
Nesse quarto já não estavam lá os livros, os inúmeros cd's, a quantidade enorme de sapatos coloridos, os perfumes, as fotografias e o gato que sempre esteve lá. Um quarto com uma janela sem cortinas, sempre com as persianas descidas até meio permitindo a entrada de uma meia luz. Essa luz que entrava no quarto deixava ver o seu rosto cada vez mais pálido, permitia conhecer a tristeza e o vazio daquele corpo. Corpo que outrora tinha tanta vida, tanta luz e tão cheio de tudo.
As pessoas iam entrando como que por turnos, sempre falando em meio tom e com um olhar de piedade. Essas mesmas pessoas conversavam com o pessoal sempre vestindo batas brancas, sempre com ar cisudo. As conversas ecooavam nos corredores mas não chegava para serem ouvidas naquele quarto.
A mãe adormeceu vezes sem conta, agarrada àquela mão que quase já não se mexia ou expressava. Era inevitável recordar o como aquele corpo e aquelas palavras usavam as mãos para dizer o que lhe ia na alma.
Os lábios deixaram de saber beijar e quase já não se mexiam para usar a palavra. Os dias passavam naquele quarto e aquele corpo permanecia quase imóvel olhando para o relógio, esperando que um dia conseguisse deixar de ver.
Um dia, o relógio marcou os minutos e as horas e aquele corpo deixou de saber em que tempo estava. Os seus olhos tinham finalmente adormecido e o corpo já não emitia aquela respiração lenta.
O quarto depois desse dia, ficou completamente vazio. Já não estava lá o corpo quieto, a mãe agarrada à mão, a caneca meia cheia de água, a flor no jarro e terminaram as conversas de corredor em surdina que teimavam em ecoar para quem estava de fora.
O branco do quarto inevitavelmente ficou mais branco e pálido e o vazio assumiu novamente o seu lugar naquele quarto com as persianas a meia luz e o silêncio permanente.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário